Graça
A Graça tem olhos escuros carregados de um brilho que unicamente a ela é característico.
Os seus olhos não a deixam mentir, são maus disfarces e não a protegem. Podem ler-se, os olhos da Graça.
Todos os dias ela sorri e as rugas que já tem tornam-se mais amorosas e atraentes a cada criança que abraça. A Graça sorri por fora mas algo me diz que chora por dentro.
Carrega nas costas a responsabilidade dos filhos dos outros, a sabedoria de fazer ouvidos de mercador a quem lhe ousar falar desperdiçado. Tem bagagem, tem garra, tem conhecimento e jogo de cintura.
A Graça tem muito amor para dar mas algo me diz que dá mais que recebe e sabe Deus o quanto isso a torna grande. Misteriosamente gande!
Não se sente obrigada a agradar a ninguém, é aquilo que é e ponto final. Diz que tem mau feitio e que não pode ser contrariada... mas algo me diz que ela já o foi e muitas vezes.
A vida embruteceu a Graça por fora mas a Graça lá por dentro quebra muito rápido. A Graça tem choro fácil mas eu nunca a tinha visto chorar. Apenas acho que assim o é.
Gostei dela desde a primeira vez e passei a gostar mais ainda quando me apercebi que o meu filho deixa a minha mão e vai correr para o colo dela todas as manhãs.
A Graça é auxiliar no Jardim de infância que o meu filho frequenta e na manhã de hoje eu perguntei -lhe se podia dar-lhe um beijo e ela disse que sim. Dei-lhe um beijo, abracei-a e disse-lhe ao ouvido: " Quem meu filho beija, minha boca adoça."
A Graça deixou fugir uma lágrima e as suas mãos tremeram... e eu vim embora de coração cheio.
Foi bom, muito bom mesmo abraçar a Graça.
( Uma pieguice que mete nojo, não é?! )